quarta-feira, 12 de junho de 2024


Resenha: Ligeiramente Seduzidos

Desde o início das resenhas da série Os Bedwyns tenho aguardado esse momento. Já falei o quanto admiro a escrita da Mary Balogh, mas eu ligeiramente detesto o quarto volume da série. Ligeiramente Seduzidos é o livro mais fraco dos seis e estou louca para dizer o porquê.
Título: Ligeiramente Seduzidos
Gênero: Romance de época
Autor: Mary Balogh
Editora: Arqueiro
Páginas: 288

Série Os Bedwyns – 4

Sinopse: Jovem, estonteante e nascida em berço de ouro. É apenas isso que Gervase Ashford, o conde de Rosthorn, enxerga em Morgan Bedwyn quando a conhece, num dos bailes da alta sociedade inglesa em Bruxelas.
Em circunstâncias normais, ele não olharia para ela duas vezes - prefere mulheres mais velhas e experientes. Porém, ao saber que Morgan é irmã de Wulfric Bedwyn, a quem Gervase culpa pelos nove anos que passou longe da Inglaterra, decide que ela é o instrumento perfeito para satisfazer seu desejo de vingança. Mas Morgan, apesar de jovem e inocente, também é independente e voluntariosa e, assim que entende as intenções do conde, se prepara para virar o jogo e deixar claro que não se deixará manipular por ninguém.
Em Ligeiramente Seduzidos, quarto livro da série Os Bedwyns, Mary Balogh nos brinda com mais uma história fascinante. Em uma trama repleta de traição e vingança, escândalo e sedução, ela mostra que o caminho para o amor pode ser difícil, mas que a recompensa faz cada passo valer a pena.
Na resenha do livro anterior, Ligeiramente Escandalosos, falei como Freyja Bedwyn é uma mulher diferente das outras sem descambar para a esculhambação da pick me girl – termo popular para definir uma mulher que menospreza outras mulheres e características femininas apenas para parecer mais única e especial diante dos homens. Já em Ligeiramente Seduzidos, nossa (des)querida protagonista, Morgan Bedwyn, marca todos os pontos no bingo da pick me girl.

O enredo começa de maneira promissora. O cenário é a histórica primavera de 1815, em Bruxelas, capital da Bélgica. Napoleão Bonaparte fugiu de seu exílio na Ilha de Elba e a perspectiva de uma nova guerra contra os franceses paira sobre os países aliados à Inglaterra. Gervase Ashford, o conde de Rosthorn, está em um salão de baile, tendo o que parece ser o seu primeiro contato com conterrâneos britânicos após nove anos afastado de sua terra natal.

Inicialmente, Gervase se apresenta de maneira diferente dos demais mocinhos da série. Nada de um homem orgulhoso, cheio de confiança e energia masculina. Ao contrário, Gervase expressa certa insegurança em meio aos ingleses. Um grande escândalo motivou seu afastamento da Inglaterra e ele demonstra temer como os outros vão reagir a sua presença.

Porém uma mudança abrupta acontece em Gervase quando vê a jovem lady Morgan Bedwyn. Não por ela fazer o checklist das características básicas de uma protagonista – bonita, adorável, elegante, feminina e por aí vai –, mas por causa do sobrenome dela. Bedwyn.

O escândalo que obrigou Gervase a abandonar a Inglaterra no passado foi “causado” por ninguém menos que Wulfric Bedwyn, duque de Bewcastle e irmão mais velho de Morgan. O simples pensamento em Wulfric faz Gervase basicamente mudar de personalidade de uma página para a outra. De um homem decidido a manter a discrição por se sentir meio tímido, ele vai direto para o canalha ressentido disposto a buscar vingança da forma mais pública e tosca possível.
Lady Morgan é a caçula dos irmãos Bedwyn. Aos 18 anos, acabou de ser apresentada à sociedade, o que foi uma experiência tediosa, pois, diferente das outras damas, ela detesta ficar de risadinhas e flertes com “jovens machos imaturos e cheios de espinhas”. Morgan é uma Bedwyn e fica feliz em lembrar disso a cada cinco páginas, afinal os Bedwyns são seres superiores, dotados de tenacidade, inteligência e desconsideração pelas regras opressoras da sociedade.

Na cabeça dela, ela é assim:

Na minha cabeça, ela é assim:

Ironicamente, foi um dos jovens machos imaturos, o capitão Gordon, que criou a oportunidade perfeita para Morgan viajar para Bruxelas e acompanhar de perto o turbilhão pré-guerra que tanto a fascina. Contudo, Morgan percebeu que a temporada social de Bruxelas era tão tediosa quanto a de Londres. As jovens damas eram frívolas e cabeças-ocas enquanto os jovens machos imaturos – não vou superar essa descrição tão cedo – insistiam em ignorar as extensas capacidades intelectuais da nossa pobre mocinha. Tadinha dela... *revira os olhos*

O único ponto positivo da viagem era a ausência do olhar constante de Wulfric sobre ela. Entre os cuidados da relapsa lady Caddick, mãe do capitão Gordon, e o ainda mais relapso Alleyne Bedwyn, irmão de Morgan, ela experimentou um tipo especial de liberdade.

E o que Morgam vai fazer com essa liberdade? Merda, é claro.

Quando Gervase é apresentado a ela no baile, Morgan não se impressiona com ele, porém o simples fato do capitão Gordon não querer que ela dance com Gervase faz Morgan aceitar o pedido. Ela é uma Bedwyn, contrariar as expectativas dos outros está em seu DNA. *revira os olhos de novo*

Durante uma valsa pra lá de escandalosa o casal tem seu primeiro tête-à-tête. O encontro acaba definindo o teor dos encontros futuros, nos quais Gervase está sempre buscando envolver Morgan em situações comprometedoras para se vingar de Wulfric e Morgan está sempre querendo provar o quanto é madura, independente, corajosa e qualquer outra característica que infle seu ego Bedwyn.
E aqui começa a minha tese sobre o porquê de Ligeiramente Seduzidos ser o livro mais fraco da série.

Argumento 1: Morgan é uma pick me girl tonta demais para ser tão arrogante.

No livro anterior, o grande diferencial de Freyja era sua capacidade de tomar decisões por si só. Todas as confusões nas quais ela se envolveu foram consequências de ações tomadas por livre e espontânea vontade. Morgan é o extremo oposto. Apesar das 200 vezes em que se declarou diferente das damas de sua idade, ela foi manipulada por Gervase como qualquer outra garota ingênua e inexperiente de 18 anos. E quando o mundo inteiro apontou o que Gervase estava fazendo, Morgan não só o defendeu como deu brechas para cair nas artimanhas dele de novo. Alguém dê o certificado de otária para essa garota.

Argumento 2: Gervase é patético.

Ok, a história de Gervase é lamentável. Ele foi acusado de um crime que não cometeu e pagou caro por isso. Porém, é difícil se conectar com um personagem cujo único traço de personalidade é uma obsessão pelo Wulfric. Se essa fosse uma história de vingança real até seria compreensível, mas fica evidente que Gervase não tem capacidade para elaborar uma vingança direta contra Wulfric, por isso mirou no alvo mais fraco à disposição. As atitudes dele são ainda mais imaturas do que as de Morgan, num vai e vem melodramático de “eu vou usar essa garota na minha vingança” e “oh, não, estou sendo malvado, devo deixar a garota em paz”. O cara tem 30 anos! Devia arrumar uma ocupação decente na vida em vez de atormentar meninas.

ALERTA DE SPOILER NO ARGUMENTO 3

Argumento 3: Wulfric nunca mereceu o ódio de Gervase.

Na primeira vez que li Ligeiramente Seduzidos fiquei ansiosa para saber o que Wulfric tinha feito com Gervase. Eles pareciam ter sido grandes amigos até a traição do duque destruir a relação. Contudo, conforme a história se desenvolvia a participação de Wulfric no exílio de Gervase diminuía. Pior, em certo ponto o próprio Gervase afirma que “fazia parte do círculo mais afastado de amigos dele [Wulfric], com a esperança de um dia ser admitido no grupo de amigos íntimos” (pág. 196). Dá pra acreditar? Eles mal eram amigos! Ainda assim Gervase age como se as atitudes de Wulfric fossem piores do que a dos verdadeiros responsáveis pela sua expulsão da Inglaterra. O mais engraçado é que o único a se tornar alvo de vinganças é o Wulfric.
Conclusão: Um casal sem carisma em um romance confuso.

Não dá pra levar o relacionamento desse casal a sério. Os 12 anos de idade entre eles fazem, sim, grande diferença. Fora que a obsessão de Gervase com Wulfric tem uma energia de paixão não correspondida. Nada me tira da cabeça que a verdadeira razão para ele investir em Morgan era o desejo desesperado de estabelecer uma relação com o irmão dela, mesmo que seja apenas de cunhados.

Ligeiramente Seduzidos é a prova de que até as escritoras mais talentosas dão suas escorregadas. Mary Balogh recria cenários históricos com primor, mas nem isso é capaz de salvar essa história. Infelizmente, a leitura é necessária para entender melhor os acontecimentos do próximo livro. Se não fosse por isso, eu diria para os leitores da série simplesmente ignorarem esse volume. É o que pretendo fazer a partir agora.



Resenhas anteriores da série Os Bedwyns:
1- Ligeiramente Casados
2- Ligeiramente Maliciosos
3- Ligeiramente Escandalosos
4- Ligeiramente Seduzidos (atual)
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