quarta-feira, 22 de agosto de 2018


Bento Gonçalves adventures - Parte I

Nesse exato momento, estou cruzando as estradas zigue-zagueadas da Serra Gaúcha em direção à Veranópolis. Mesmo que a cidade faça parte do projeto, não é ela o destino de hoje. O foco está na tão esperada,idolatrada, salve, salve Cotiporã. Como não há ônibus que ligue Cotiporã a Bento Gonçalves durante a semana, farei uma baldeação em Veranópolis. Tenho cerca de uma hora de viagem sem sinal de celular para encarar, então, nesse tempo, decidi escrever sobre a experiência riquíssima que tive em Bento Gonçalves.

Minha passagem por Bento foi recheada de surpresas positivas. A princípio, tinha uma estadia confirmada para os dias 20 a 22 de agosto. Porém, como não consegui hospedagem em São Leopoldo, precisei ir para Bento no dia 18, o que me levou a procurar outro anfitrião no Couchsurfing.

Quero fazer uma postagem especial sobre essa plataforma de viajantes no futuro. Agora, posso adiantar que, por questões de segurança, estava me hospedando exclusivamente com mulheres. Além de fazer as solicitações com mais de três semanas de antecedência para ter tempo de conhecer a anfitriã. Como minha ida para Bento era iminente e eu não teria lugar para ficar – tirando os hotéis que são BEM caros –, na quinta dia 16, aceitei a oferta de um rapaz. Dois dias depois, no sábado, já estava instalada na casa dele.

Tudo ocorreu às pressas, o que me deixou ansiosa com a falta de um período “pré-surfing”. E todo o desenrolar da minha estadia exigiu uma logística atípica do meu anfitrião, que passou a noite com um amigo enquanto eu ocupava sua casa – era um cômodo onde só caberia uma pessoa.

Ele, um maranhense que vive há seis anos em Bento Gonçalves, se revelou uma pessoa inteligente, responsável e super disposta a ajudar os outros. Claro, não descobri isso tudo no primeiro encontro. Houve o estranhamento inicial, um receio básico, até que as coisas começaram a fluir. Posso dizer que conhecê-lo valeu o risco.

No domingo de manhã, partimos de moto para o Vale dos Vinhedos, a região que concentra o maior número de vinícolas da Serra Gaúcha. A essa altura, eu e o anfitrião já estávamos mais confortáveis um com o outro. Juntos, visitamos as vinícolas Casa Valduga, Larentis e Dom Cândido.

As três foram indicações da outra anfitriã que tive em Bento. A estratégica proximidade entre elas foi o ponto chave, pois é possível ir de uma a outra caminhando. As experiências foram únicas, então falarei de cada uma separadamente.

Casa Valduga


Conhecida por ser a primeira vinícola a introduzir o enoturismo no Brasil, a Casa Valduga possui uma infraestrutura fenomenal. Fiquei estarrecida com o tamanho do complexo, que conta com loja, restaurante, estacionamento, vinhedos e incríveis CINCO pousadas – Storia, Gran, Raízes, Identidade e Leopoldina. Em questão de turismo, a galera dali realmente sabe o que está fazendo.


Antes de iniciar a visita, os visitantes ganham uma taça de cristal e são conduzidos a uma sala com televisão, na qual passam vídeos curtos sobre a história da vinícola. Assistimos os filmes por alguns minutos até que dois homens entraram por uma porta lateral da sala. Um deles se apresentou como Jean, o guia da visitação; e o outro, como João Valduga, enólogo chefe e membro da família fundadora da vinícola.

Seu João é um senhor divertido, com um forte sotaque colonial. Perguntou aos visitantes de onde cada um havia vindo e arrancou gargalhadas de todo o grupo com seus comentários. Quando alguém falou que viera da Angola, seu João soltou: “E eu achando que o Rio de Janeiro era longe!”.

Descontraído, ele contou um pouco sobre a história de sua família. Gravei uma parte da apresentação para manter registrado aquele retrato ao vivo e a cores do que quero transpor para meus livros: autenticidade. Os povos, as culturas e as histórias presentes no Rio Grande do Sul são autênticos. Seu João, usando palavras simples para falar como participou da construção dessa grande vinícola, deixou isso bem claro para mim.

Após a apresentação, seu João se despediu e Jean, o guia, nos conduziu até a cave, que fica no subterrâneo do prédio. Um ambiente que tem um quê de masmorra: frio, obscuro e cercado por pedras. Ali, o vinho é deixado para envelhecer.


Passamos por diversas alas da cave enquanto Jean falava sobre as etapas de elaboração do vinho, as uvas utilizadas e acrescentava informações sobre a história da Casa Valduga. Também fizemos degustações. Começamos com vinhos tintos, depois, brancos, e por último, espumantes.

Meus conhecimentos sobre vinhos se restringiam ao campo teórico até aquele dia. Degustar rótulos diferentes me permitiu descobrir a bebida que mais agradava meu paladar – Hello, espumantes moscatel!!


A visitação, que durou quase duas horas, encerrou após uma saída rápida até os vinhedos que rodeiam o complexo. O dia estava bonito, céu azul e sol forte, porém o inverno deixa as videiras com um aspecto ressecado e moribundo. Estão adormecidas.


Meu lado escritora gostou de testemunhar esta fase do ciclo das uvas, afinal, coincide com o período em que o livro Pérola se passa; só que meu lado viajante ficou ressentido por não ver os vinhedos verdinhos e alegres... Só me resta voltar no verão!

Essa postagem já está enorme, por isso vou deixar as outras duas vinícolas, e o restante da experiência em Bento, para a próxima atualização. Aguardem!
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