quarta-feira, 12 de setembro de 2018


Cotiporã - a joia da Serra Gaúcha

É surpreendente analisar a trajetória que percorri até chegar em Cotiporã. Não me refiro somente à viagem, pois ela foi apenas mais um elemento que me conectou a esta cidade. Para mim, seria impossível falar de Cotiporã sem mencionar a série Preciosas, meu amor pela escrita e o crescimento pessoal que venho vivenciando. Em algum momento que não consigo precisar, Cotiporã deixou de ser uma cidade, e tornou-se a minha cidade.

Anos atrás, quando resgatei a ideia da série Preciosas do limbo, cometi um erro comum entre escritores brasileiros de fanfiction: ambientei o enredo nos Estados Unidos. Louco, né?

No planejamento inicial, a série se desenrolaria no estado americano de Maryland. Era um plot super complicado que envolvia imigrantes italianos, vinhedos, viagens ao Rio de Janeiro e outras coisas que dariam um trabalhão para soarem verossímeis. A criatividade corria solta, mas a originalidade deixava a desejar. Sentia isso conforme pesquisava. O que pretendia fazer já estava sendo feito por milhares de pessoas na internet.

Num dia qualquer, desabafei com minhas amigas a insatisfação que a premissa da história me transmitia. Já cogitava trocar a ambientação para terras tupiniquins, mas faltava um empurrãozinho básico. Recebi ele da Bruna quando me perguntou: “Por que não faz aqui no Brasil?” Respondi: “Porque ninguém escreve sobre o Brasil, então acho que ninguém deve gostar de ler...” Ela argumentou: “E se ninguém lê só porque ninguém escreve? Esse seria um diferencial pra sua história.” Eu fiquei meio não sei, não… A verdade era que esse preconceito era meu, pois desvalorizava os enredos ambientados em solo nacional. Um pensamento burro que dei como superado quando parti em busca de uma cidade na Serra Gaúcha onde pudesse alocar a família Adami.

Meu objetivo era trabalhar no universo da imigração italiana, com suas famílias grandes, variadas e geniosas. Descobri que, no Brasil, a Serra Gaúcha seria o lugar ideal para Preciosas. Em qual cidade?, me perguntava. Haviam tantas opções! Lia relatos de viagens e guias turísticos para conhecê-las, porém nenhuma me atraia... até Cotiporã.

Foi no site oficial da Serra Gaúcha, em uma página que falava sobre a região Uva e Vinho. Lá estava: Cotiporã – a joia da Serra Gaúcha. Na hora, pensei: É ela! Seria o lugar perfeito para uma série literária repleta de referências à pedras preciosas.

A partir de então mergulhei em pesquisas sobre a pequeniníssima Cotiporã. Li muitos artigos e textos, só que nenhum falava sobre o que eu queria saber. Por exemplo, como é o ritmo de vida numa cidade com menos de quatro mil habitantes? Ou a sonoridade do dialeto vêneto? E onde os cotiporanenses vão num dia de sol? Eu não encontrava nada sobre esses aspectos específicos, simples, que empregam tanto charme numa narrativa. O que fazer? Na época, sentar e chorar.

Porém, se as lacunas de informação dificultavam a verossimilhança, tinham um efeito totalmente oposto no meu lado inventivo. Criei uma comunidade fictícia as margens da cidade, situei a sede da Cooperativa Vinícola Montenêto numa área repleta de vinhedos e aumentei o número de habitantes por questões de lógica – uma cidade com uma grande empresa atrairia bastante mão de obra.

Criei uma Cotiporã particular, na qual as ruas eu visitava pelo Google Maps. Sempre que surgia uma dúvida, pegava referências com cidades vizinhas, como Veranópolis, Bento Gonçalves e Caxias do Sul. Na minha cabeça tudo se encaixava perfeitamente. Por mais distante que estive, Cotiporã me parecia tão familiar quanto o Rio de Janeiro.

Dessa forma, segui confortável até o início deste ano. Já falei bastante no blog sobre essa fase de autodescoberta que vivenciei, além das profundas mudanças interiores que ela gerou. Tudo isso culminou com a criação do Projeto Preciosas que, em contrapartida, teve seu estopim a partir de um desejo sincero de conhecer Cotiporã... E, novamente, Cotiporã se tornava minha bússola orientadora...

Planejei o roteiro do Projeto Preciosas iniciando a partir de Porto Alegre, subindo pelas cidades da Serra até alcançar o ponto auge, Cotiporã, e descendo até seu fim em Cambará do Sul. Claro que nem tudo saiu como o esperado. Tive várias mudanças de programação – algumas ainda para acontecer –, porém Cotiporã era insubstituível. Meu foco, meu destino e a única certeza que carregava. Eu chegaria lá.

Bem, eu cheguei. E o que aconteceu lá será o assunto do próximo post.

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