quinta-feira, 6 de setembro de 2018


Lljj e Garibaldi: uma linda paixão

Garibaldi nunca esteve na lista de destinos do Projeto Preciosas. No quesito vinícolas, Bento Gonçalves parecia de longe mais atraente. E como este era o foco da visita, deixei de lado a Capital do Espumante sem um pingo de remorso... até conhecê-la pessoalmente.

Estava dentro do ônibus que me levaria a Bento Gonçalves quando entrei naquela que ocuparia o posto de cidade mais fofa do mundo para mim: Garibaldi. Na hora, sequer sabia onde estava, apenas absorvi a essência pacata que emanava das ruas limpas e vazias, cercadas por construções pequenas e alinhadas. Foi paixão a primeira vista, um despertar que não sentia há tempos.

Me empertiguei no assento para comprimir a testa no vidro da janela. O visual da cidade parecia ser uma mistura de sonho e realidade. Ah, só quem sai de uma capital urbana, tumultuada e frenética pode entender... ou quem ainda se recorda da primeira vez que viu o mar... Aquela pequena cidade assumiu uma aura encantada aos meus olhos, pois nunca estive diante de um lugar tão... confortável. Por isso eu precisava voltar. E voltei.

Na terça, 21/08, o tempo permanecia chuvoso quando me dirigi à rodoviária de Bento Gonçalves. Com um guarda-chuva, agasalho extra e um mapa turístico na bolsa, peguei o ônibus que me levaria a Garibaldi. Vinte minutos depois, lá estava eu. E foi essa temperatura que me saudou:


No Rio, uns 16°, 17° já é motivo para se enrolar num casacão, tirar as botas do fundo do armário e evitar ao máximo qualquer atividade externa. Bem, minhas definições de frio foram atualizadas!

As extremidades do meu corpo estavam dormentes, geladas, mal sentia os dedos dos pés. O ar queimava ao entrar pelo nariz, ardendo até se dispersar pelos pulmões, que se comprimiam dolorosamente. Calafrios subiam e desciam pela espinha. Os dentes batiam de um jeito irritante, porém, quando os trincava, o tremor se deslocava para os ombros e braços. Era uma agonia que aceitei com imensa satisfação, afinal, agora posso descrever com propriedade o frio da Serra Gaúcha.

Seguindo as orientações do mapa turístico, fiz o roteiro “Passadas – A arquitetura do olhar” cujo percurso envolve as construções históricas presentes na rua Buarque de Macedo. É um passeio ao ar livre. Nas fachadas dos prédios, placas contam um pouco sobre suas origens e as histórias de seus antigos moradores.



Foi assim que acabei chegando ao Museu Municipal. Seu acervo histórico está super preservado e mostra um pouquinho sobre o estilo de vida dos imigrantes que colonizaram essas terras. Lá, descobri que o nome Garibaldi foi uma homenagem à Giuseppe e Anita Garibaldi, embora nenhum deles tenha sequer passado perto da cidade.



Após o Museu, continuei dando voltas pelo centro. Uma coisa que achei interessante na Serra Gaúcha é que as cidades nasceram sobre o sobe e desce de morros, então há muitas ladeiras. Algumas pequenas; outras, médias; e aquelas que parecem ser um caminho direto para o céu. Essa foto foi tirada de uma mediana:


Por precaução, assim que cheguei em Garibaldi, comprei a passagem de volta para Bento Gonçalves para às 14h. Não contava que, depois do almoço, surgisse um lugar especial, pertinho, para conhecer: a Vinícola Peterlongo.


Entrei na recepção da Peterlongo exatamente às 13:09. A recepcionista, uma moça simpática e prestativa, me informou que uma visitação estava prestes a sair. Se não me engano, vinte reais era o valor e levava cerca de uma hora. Eu teria feito com muito gosto se o horário não estivesse tão apertado. Falei isso para a moça que, tranquilamente, perguntou se eu não queria assistir o vídeo inicial da visitação, que conta a trajetória da vinícola. Claro que eu queria. Ainda mais ao saber que não teria custo nenhum.



Me dirigi até a sala de vídeo. Ali, sozinha, fui apresentada a história da primeira vinícola a produzir espumantes no Brasil. Foi inspirador! Ideias pipocaram na minha cabeça aos montes. Além de toda a situação me tornar consciente de um discurso estereotipado que marcou os dias anteriores à minha viagem. Cansei de ser alertada por frases como “Gaúcho é muito antipático”, “Eles são preconceituosos”, “Um povo esnobe” e outras tantas que fiz questão de esquecer. Sei que alguns deles se enquadram nesses pensamentos, mas, felizmente, a maior parte é gente boa. E, mais felizmente ainda!, tive a sorte de só esbarrar em gaúchos nota 10.

Voltei para Bento com o coração leve. Meu dia não havia sido em Garibaldi, e sim com Garibaldi. Uma companhia que me apresentou lugares acolhedores, pessoas gentis e novas perspectivas. Como em um romance de verão – ou melhor, de inverno –, tudo foi rápido, intenso e marcante. Sem promessas eternas, me despedi de Garibaldi com uma única certeza: nos encontraremos de novo.
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