quarta-feira, 24 de outubro de 2018


Caxias do Sul: o não-lugar

O antropólogo francês Marc Augé define o não-lugar como um espaço de transição com o qual não estabelecemos nenhum tipo de vínculo; que não possui significado suficiente para ser um lugar. Exemplos típicos de não-lugares são os supermercados, os meios de transporte e até as grandes redes de hotéis, pois são espaços descaracterizados e impessoais... Soa bem forte associar este conceito a uma cidade inteira, né? Deixa eu explicar...


Passei apenas dois dias em Caxias do Sul, a segunda cidade mais populosa do estado. Minha chegada foi conturbada, tensa, devido à engarrafamentos e muita confusão para descobrir qual linha de coletivos passava no hostel em que me hospedaria. O hostel era afastado do centro, num bairro que falhava em transmitir a sensação de segurança que tive em Veranópolis e Cotiporã.

O primeiro dia foi perdido devido aos atrasos no trânsito e na rodoviária – passei meia hora tentando achar um ponto de ônibus até desistir e apelar para o Uber. Também tive uma impressão ruim do hostel ao chegar. O lugar tinha um ar de abandonado e a proprietária era uma senhora silenciosa de feições mal-humoradas. Só havia um hóspede além de mim, mas ele estava em um quarto individual. Fiquei sozinha no quarto coletivo.

Para minha sorte, este hóspede se revelou uma pessoa comunicativa e divertida, que aliviou boa parte do clima pesado que havia no ambiente. Ele também mandava ver na cozinha, peguei umas três receitas deliciosas com ele.


No dia seguinte, depois de passar a manhã acertando pendências do blog, resolvi caminhar até o Pavilhão da Festa da Uva, o único atrativo que havia nas “proximidades” do hostel – foram 40 minutos de caminhada sob o sol mais forte que senti no Rio Grande do Sul.


O Pavilhão estava deserto. Cruzei apenas com um cachorro que ainda teve a audácia de correr latindo atrás de mim.


Visitei a réplica da Caxias do Sul antiga. Um espaço realmente interessante embora seu vazio tenha me deixado profundamente incomodada. Lembrava uma cidade esquecida pelo tempo e as pessoas.


Já completava quase duas semanas que eu tinha me despedido dos anfitriões de Bento Gonçalves. Depois disso, fiquei numa sucessão de hotéis solitários, quase sem companhia para conversar. Estava cansada de ficar sozinha, andar sozinha, comer sozinha... ser o elemento estranho e passageiro num mundo estranho e passageiro para mim.

Ali, em meio ao estacionamento do Pavilhão, calculei o trajeto até o aeroporto. Queria minha casa o mais rápido possível. Toda a viagem parecia uma ideia estúpida, difícil demais de sustentar na vida real. “O que estou fazendo aqui?”, me perguntava.

Mandei mensagens para uma amiga, questionei se seria covardia encerrar a viagem sem cumprir o roteiro. Chorei com saudade da minha família, da minha casa. Me convenci que podia tentar de novo numa próxima oportunidade... Não, não me convenci... Havia um pedacinho meu, talvez um pedação, que tinha mais medo de retroceder do que de avançar…

Por mais deprimida que me sentisse, eu ainda queria continuar.

Contatei o anfitrião que me receberia no destino seguinte, Flores da Cunha, e pedi para adiantar minha estádia. No outro dia, ele foi me buscar de carro no hostel. Pretendia passar só o final de semana com ele, mas, por motivos que ficam para a próxima postagem, fiquei mais de três semanas ao seu lado.

Bem, não conheci Caxias do Sul realmente. É uma das cidades que receberão foco especial ao longo da série Preciosas, mas não encontrei nela nada com o qual pudesse me conectar, me identificar. Por isso, Caxias se tornou um não-lugar para mim. Isso se deve principalmente ao meu estado de ânimo e a uma sequência de pequenos imprevistos que eu não conseguia administrar. Enfim...

Quero fazer outra visita, de preferência durante a Festa da Uva, para esquecer o mal-estar desta primeira vez. Quando isso acontecer, farei questão de descrever um roteiro incrível nesta cidade. Até lá!
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