quarta-feira, 31 de outubro de 2018


No Mirante Gelain

O Mirante Gelain representa muitas coisas para mim. Foi meu local de maior permanência em toda a viagem e o destino final no Rio Grande do Sul. Não poderia encerrar esse relato sem um post inteirinho dedicado a ele.

Isso não é uma resenha sobre um mero ponto turístico. Durante três semanas o Mirante foi a minha casa. Foi onde encontrei abrigo e amigos; aventuras que sequer imaginei vivenciar. Aonde mais eu teria uma vista dessas para escrever?


O Costela era uma companhia preguiçosa, estirada no sofá, enquanto eu escrevia dentro de casa. Nos dias de sol, que infelizmente eram poucos, eu aproveitava para escrever do lado de fora. Levava a cadeira de praia para o gramado. A Lara deitava aos meus pés e, de vez em quando, punha o focinho no meu colo para pedir carinho. A Filó estava sempre ligada no 220, então não me arriscava a uma maior aproximação. Aliás, encontrei um registro dela para guardar de recordação.


Durante a semana, Marcos e eu passávamos o dia pensando em qual filme assistiríamos à noite – e o que faríamos para comer. Os filmes eram variados, iam do drama à comédia. Os lanches, normalmente, eram biscoitos amanteigados que enchiam o colo de farelos. Fiquei viciada neles! Até levei alguns pacotes quando deixei o Rio Grande do Sul.


Nos finais de semana o Mirante bombava com visitantes. Alguns armavam barracas e passavam a noite, outros, apareciam durante o dia para fazer piquenique, admirar a vista ou comer o famoso pastel de feira que o Marcos vende.


Ainda no tema comida, não posso esquecer a tarde em que aprendi a fazer quentão. Gravei parte da receita no celular. Achei incrível a forma como o álcool do vinho foi consumido pelo fogo.


Com o quentão pronto, nos sentamos para conversar e comer pipoca. Essa parte deixei para gravar na memória mesmo.

Mas nem todo o tempo era só de comer ou ver TV, afinal, aquele era o principal ponto de ecoturismo de Flores da Cunha. As belezas naturais se escondiam no fim de cada trilha percorrida ou pedra escalada. Várias vezes tive o medo de altura posto em xeque, pois medo nenhum me impediria de ver uma coisa dessas:


Na noite anterior à minha partida, junto a uma argentina e um uruguaio, tivemos um café noturno com direito a pães, geleias, queijos, biscoitos e muito creme de amendoim. Quase meu almejado café colonial.


E quando chegou a hora de pôr a mochila nas costas e voltar para a estrada, senti como se, mais uma vez, estivesse deixando a meu lar. Bati de frente com a realidade de todo viajante: somos passageiros. Cada chegada é a promessa de uma partida. Por mais que se ame um lugar, suas pessoas, sua cultura, sua energia... em algum momento, precisaremos deixá-lo.

Foi pensando nisso que embarquei num ônibus para São Paulo. Sozinha pela primeira vez em semanas, me senti a mais solitária das mulheres. E também a mais livre.

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