sábado, 9 de março de 2019


Resenha: Sete Minutos Depois da Meia-Noite

Há poucos dias, saltando tediosamente entre os canais da televisão, acabei me deparando com uma cena dispersa que congelou meu polegar no botão do controle remoto. Era um menino ajoelhado, chorando desconsoladamente, aos pés de um gigante monstruoso. Sem nenhum contexto do que se tratava, resolvi assistir. Menos de quinze minutos depois, o filme terminou e, assim como o menino, acabei com o rosto inundado por lágrimas sentidas. Com os créditos finais, veio o título do filme e o êxtase de saber que era a adaptação de um livro. Sem perder tempo, corri para encontrá-lo. Escrevo a resenha com o peito apertado e, ao mesmo tempo, muito leve.

Título: Sete Minutos Depois da Meia-Noite
Gênero: Fantasia
Autor: Patrick Nees
Editora: Novo Conceito
Páginas: 139

Sinopse: Conor é um garoto de 13 anos e está com muitos problemas na vida. A mãe dele está muito doente, passando por tratamentos rigorosos. Os colegas da escola agem como se ele fosse invisível, exceto por Harry e seus amigos que o provocam diariamente. A avó de Conor, que não é como as outras avós, está chegando para uma longa estadia. E, além do pesadelo terrível que o faz acordar em desespero todas as noites, às 00h07 ele recebe a visita de um monstro que conta histórias sem sentido.
O monstro vive na Terra há muito tempo, é grandioso e selvagem, mas Conor não teme a aparência dele. Na verdade, ele teme o que o monstro quer, uma coisa muito frágil e perigosa. O monstro quer a verdade.
Baseado na ideia de Siobhan Dowd, Sete minutos depois da meia-noite é um livro em que fantasia e realidade se misturam. Ele nos fala dos sentimentos de perda, medo e solidão e também da coragem e da compaixão necessárias para ultrapassá-los.

Sete Minutos Depois da Meia-Noite é um livro de Patrick Ness baseado numa ideia da falecida escritora Siobhan Dowd. Essa informação tornou a história ainda mais especial para mim. Logo nas primeiras páginas o autor deixa uma nota emocionante comentando sua experiência de escrita e uma dedicatória curta e simples a Siobhan.

Siobhan Dowd escrevia literatura infanto-juvenil e faleceu aos 47 anos devido a um câncer de mama. Como Patrick explica em sua nota, ela havia criado os personagens, a premissa e o começo do que seria seu quinto livro, mas, infelizmente, não teve tempo para escrevê-lo.

Eu não conhecia nenhum dos dois autores até este momento, mas o resultado de Sete Minutos Depois da Meia-Noite me deixou cativada pelo trabalho de ambos. Espero ter oportunidade de ler suas outras obras no futuro.


Somos inseridos no enredo a partir da perspectiva de Conor O’Malley, o jovem protagonista. Em uma bela noite, especificamente à 00h07, ele acorda com uma voz a lhe chamar. Da janela do quarto, testemunha o momento em que uma enorme árvore se ergue com braços, pernas e olhos cintilantes no jardim de sua casa. Era o monstro, e ele queria conversar.

A partir de então, o monstro passa a visitar Conor, sempre no mesmo horário, com a intenção de lhe narrar três histórias, deixando para o rapaz o dever de contar a quarta e última história, que precisa revelar a verdade.

A narrativa segue uma linha concisa e direta do início ao fim. Palavras não são desperdiçadas enquanto mergulhamos na realidade dura que Conor enfrenta, ainda assim, muita coisa pode ser entendida nas entrelinhas.

O epicentro dos problemas de Conor é o estado avançado da doença de sua mãe, algo que ele simplesmente não consegue encarar. Existe uma urgência na personagem em rebater qualquer menção a um futuro em que sua mãe não esteja. Ele se prende à possibilidade de melhora com o desespero de alguém que não está pronto para dizer adeus. Mas quem está, afinal?


A cada capítulo nos vemos a morte se aproximar como o fenômeno fatal e inevitável que é. Todos enxergam isso, inclusive Conor, mas a negação continua sendo sua rota de fuga. Isso traz mais atritos em sua relação já conturbada com a avó, também evidência a sensação de abandono por parte do pai e aprofunda o isolamento que encontra na escola. Nós sofremos por ele, pela incerteza e pela falta de esperança que a situação sugere.

O monstro, de um jeito estranho e bruto, surge como um apoio para o protagonista e o leitor. Sua presença traz certo conforto e suas histórias direcionam Conor para a verdade que ele precisa reconhecer. Em determinadas cenas, eu torcia para o monstro aparecer apenas para que Conor não fosse deixado sozinho em meio ao caos que sua vida se transformava.


Há muitas lições que podem ser tiradas desse livro, nem todas agradáveis, embora definitivamente reais. A própria verdade de Conor acaba sendo pesada demais para aceitar, mas somente após admiti-la que ele consegue se livrar deste peso – e nós conseguimos entendê-lo melhor.

A mensagem do livro é densa, mas a leitura flui com clareza até o doce amargo fim. As emoções são mais complicadas de se levar. Para aqueles que já perderam um ente querido a identificação é fácil e, por vezes, dolorosa. A simplicidade da escrita de Patrick torna o texto compreensível para um público abrangente de leitores. Em todo caso, o filme está aí com uma adaptação maravilhosa e fiel a essência da história. Indico os dois.

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