sábado, 16 de março de 2019


Resenha: Transcendence

Conheci Transcendence, de Shay Savage, através de uma resenha divertidíssima do blog Hominho di Papel. Passei uma semana convalescendo na cama após as doses cavalares de nonsense que o enredo prometia. Meu cérebro não conseguia processar um plot tão absurdo, mas a sementinha da curiosidade florescera com sucesso. Corri para ver o estrago que a autora causara. E ele foi imenso! No meu coração!!

Título: Transcendence
Gênero: Romance
Autor: Shay Savage
Editora: Independente
Páginas: 313

Sinopse: Dizem que as mulheres e os homens são de dois planetas diferentes quando se trata de comunicação, mas como eles podem superar os obstáculos de tempos pré-históricos, quando um deles simplesmente não têm a capacidade de compreender a linguagem?
Ehd é um homem das cavernas vivendo por conta própria em um deserto áspero. Ele é forte e inteligente, mas completamente sozinho. Quando ele encontra uma bela jovem em sua armadilha, é óbvio para ele que ela é para ser sua companheira. Ele não sabe de onde ela veio; ela está vestindo alguma roupa muito estranha e ela faz um monte de barulhos com a boca, que lhe dão uma dor de cabeça. Ainda assim, ele está determinado a cumprir o seu propósito na vida – sustentá-la, protegê-la e colocar um bebê dentro dela.
Elizabeth não sabe onde ela está ou exatamente como ela chegou lá. Ela está confusa e angustiada pela sua situação e há um homem das cavernas puxando-a de volta à caverna dele. Ela não está de toda interessada nos avanços primitivos de Ehd e ela simplesmente não consegue fazer com que ele ouça. Não importa o quanto ela tente, tentando fazer seu ponto de vista a este primitivo, mas bonito, homem em uma constante – e muitas vezes hilariante – luta.
Com apenas um ao outro para companhia, eles devem confiar um no outro para lutar contra os perigos da vida selvagem e se preparar para os meses de inverno. Enquanto eles lutam para coexistir, isso se torna uma história de amor que transcende a linguagem e tempo.

Esta é, definitivamente, a história mais insana que tive o prazer de ler nos últimos tempos. É difícil até categorizá-la. Romance histórico? Ficção científica? Crackfic? Eu não sei, sequer importa. O enredo é único em suas peculiaridades, faz meus olhos de leitora/escritora brilharem pela criatividade e ousadia.

Tudo começa com End, nosso doce homem das cavernas, que se encontra deprimido após longas estações vagando sozinho, pois perdera sua tribo para um incêndio. Ele está lá, se perguntando por que se esforça tanto para sobreviver quando não há nada além de fome, perigo e solidão a sua espera. Mas End tem espírito de brasileiro, desistir é mais uma palavra inexistente no seu limitadíssimo vocabulário.

Como o destino costuma se compadecer desse tipo de sofredor – SQN! –, ele recebe o melhor presente com que poderia sonhar: uma companheira. Os pássaros cantam, o sol resplandece, Ehd se aproxima daquele ser celestial e ela grita aterrorizadamente, pois acabou de chegar do futuro e não tem ideia de onde está.


O enredo é narrado em primeira pessoa, exclusivamente do ponto de vista de Ehd. Uma escolha assertiva da autora, que causa uma imersão no mundo e nos sentimentos do protagonista. Ehd também é nosso único elo de contato com a mocinha, Elizabeth, cujo nome ele encurta para Beh, o que, cá entre nós, é muito mais simples.

Quem é Beh, de onde ela veio e como chegou ali são questões simplificadas por Ehd. Na verdade, tudo entre eles é na base da dedução, já que Ehd não entende bulhufas do que ela diz.


A completa falta de diálogos me pegou de surpresa. Com a mente recheada de clichês, esperei ver Ehd superando esse entrave comunicativo e tecendo conversas básicas com Beh até o fim do livro. Não aconteceu, e a frustração só me deixou mais apaixonada.

A relação deles é construída gradativamente, baseada na aceitação dos limites e características um do outro. O leitor sente o amadurecimento das personagens, a forma como se adaptam para que a parceria dê certo, mas a essência de cada um permanece a mesma. Beh gasta litros de saliva em monólogos constantes que só servem para dar dor de cabeça em Ehd – mesmo assim, formam um dos casais literários mais equilibrados que já conheci.

E preciso destacar o fato do nosso querido Ehd ser o ponto fora da curva do biótipo padrão de homem das cavernas – até para alguns homens contemporâneos. Ele é compreensível, atencioso e tem uma disposição ferrenha para atender todas as possíveis necessidades de sua companheira, até mesmo toma banho no inverno para agradá-la. Pode ficar melhor? Sim! Ele aprendeu, logo nos primeiros dias com Beh, que não é NÃO.


Depois disso, o som não se torna um alerta para que ele pare o que estiver fazendo a Beh. Gente, quanto homem ainda não entendeu isso? Principalmente no gênero literário em que o livro se enquadra. Estou começando a cansar desses mocinhos ogros que querem ditar suas vontades para cima das protagonistas. Transcendence reacendeu minha esperança para futuras leituras.

O enredo engloba todas as fases do relacionamento, o que torna o livro longo, mas não cansativo. O desfecho é digno e emocionante. Enrolei uns dois, três dias para ler o último capítulo, porque não estava pronta para a despedida. As emoções me atingiram com força e a ressaca pós-termino me deixou grogue por uma longa semana. Chorei, fiquei mal, depois lembrei que as melhores coisas sempre tem seu fim e isso só as torna mais especiais.

Muitas perguntas encontram respostas no final, outras, só poderiam ser explicadas sob a perspectiva de Beh. Para isso, uma sequência foi lançada no fim do ano passado, intitulada Luffs – meu coração palpitou com a referência.

Transcendence é um livro sobre barreiras e superação a dois; sobre buscar formas de entender e aceitar o outro; sobre acertar as arestas para fazer dar certo. Um romance completo, com personagens incríveis, cenas quentes e sacadas geniais da autora. O maior pisão literário que meu preconceito já tomou. Uma salva de palmas e dedos cruzados para que alguma editora brasileira invista na tradução dos livros da Shay.

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