quarta-feira, 17 de julho de 2019


Sobre escrever... #2

Um bom tempo atrás, tive a oportunidade de ler o livro O Alquimista, de Paulo Coelho. Admiro muito a escrita do autor, e esse livro integra minha lista de boas referências. A história carrega belas lições de vida. Uma em especial ficou gravada na minha cabeça e, vira e mexe, acabo comentando com amigos e conhecidos. É a passagem do comerciante de cristais.

O comerciante é um personagem secundário. Dono de uma loja de cristais, há anos ele carrega um sonho: fazer a peregrinação até a Meca. Esse desejo envolve vários elementos religiosos e culturais que são citados no livro e que, agora, me fugiram da mente. A verdade é que o sonho em si é irrelevante diante da mensagem que o comerciante tem a transmitir.

Apesar de ter oportunidades para realizar seu desejo, o comerciante prefere mantê-lo restrito ao mundo dos sonhos. Suas razões são simples: ele teme que a concretização não seja tudo aquilo com que sempre fantasiou. Pior, após tornar esse sonho tão importante realidade, o que restaria para ele sonhar?

O comerciante não quer lidar com essas questões, então opta, conscientemente, viver apenas sonhando. Talvez um dia faça a peregrinação. Talvez não. De qualquer forma, o satisfaz possuir um sonho tão precioso.

A atitude dele não deve ser encarada como certa ou errada. É humana, é real, é identificável. É exatamente como eu me sinto em relação a escrever um livro.

Escrever é um sonho que não tenho certeza se quero tornar real. Prova disso são as inúmeras ideias de histórias que tenho engavetadas. São livros e livros que poderiam estar escritos, talvez até publicados. Mas eu insisto em mantê-los guardados no meu coração, brincando nos cenários mais imaginativos possíveis. Meus sonhos flutuam como nuvens num céu azul, vagarosos, às vezes grandes e expansivos, outras vezes, como uma fumaça tênue que se dissipa ao vento. Eu gosto de admirá-los, e só.

Sempre que penso sobre isso fico deprimida. Soa tão idiota sonhar sem compromisso. Sinto como se estivesse desperdiçando tempo e habilidade. Devia ser mais focada, mais dedicada, até mais profissional. Só que então uma nova nuvem surge no céu da minha alma e esqueço os problemas enquanto a observo planar. Outro sonho a compreender, a me apaixonar.

Escrever um livro parece pouco diante da imensidão que há em mim. Na verdade, uma centena de livros não me dariam a satisfação que os sonhos trazem... Ou dariam?

Ah, sei lá.

Vou me deitar num gramado verde, longe de tudo e de todos. As nuvens que desenham formas no céu azul são as únicas companhias que eu quero. Continuarei assistindo.

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