Chegou a hora que eu mais esperava! Não é a toa que engordei dez quilos durante a viagem. Aviso logo que esse post não é recomendável para pessoas com fome.
Antes de chegar em Porto Alegre eu tinha uma visão estereotipada da culinária gaúcha. Esperava descer no aeroporto e logo avistar a fumaça de centenas de churrascos cobrindo a cidade. Era em carne que pensava quando pedi a anfitriã que me indicasse um restaurante para almoçar naquele dia. A resposta que recebi foi: “Serve vegetariano?”
Nunca tinha ido em um restaurante desses, então aceitei mesmo com a quebra de expectativa. Chegando lá, descobri que não se tratava apenas de um restaurante vegetariano, mas um restaurante chinês vegetariano. Um self-service, aliás. Montei meu prato com aquilo que era identificável: arroz colorido, berinjela assada, grão-de-bico e um baozi, pão cozido no vapor, que sempre quis experimentar. Estava divino!
Nos dias seguintes notei que comida vegetariana é uma verdadeira febre em Porto Alegre. Tá legal que minha anfitriã era adepta ao cardápio, o que me direcionava aos restaurantes do gênero. Só que eram muitos. Muitos mesmo! Do tipo de ter uns três na mesma região. Não vejo uma concentração assim no Rio de Janeiro, por exemplo. Fora que até alguns restaurantes comuns de PoA oferecem pratos vegetarianos/veganos. Um murro certeiro na imagem preconcebida e homogênea que tinha dos gaúchos.
Com tantas opções à disposição, logo eu estava comendo novamente em um restaurante vegetariano. Vegano, na verdade. E com pegada indiana, dessa vez. Eles liberaram um cupom de desconto para a refeição completa, que contava com entrada, prato principal, chá e sobremesa. Bom de mais para ser verdade... mas era, e aproveitei.
Como boa onívora, no dia seguinte eu estava sentadinha na área externa de um restaurante, aguardando a chegada de uma à la minuta. Trata-se de um prato feito que, na sua forma padrão, contém bife, ovo, arroz e batata frita. Mas existem inúmeras versões. Na que conheci esse dia, trocaram a batata frita por aipim cozido, acrescentaram feijão preto e uma fatia enorme de lasanha. Tudo empilhado no mesmo prato. De acompanhamento veio uma porção generosa de maionese e aquela saladinha básica.
Juro que me esforcei, usei o máximo de espaço que meu estômago dispunha, mas não comi nem um terço do prato. O que sobrou embrulharam para a viagem e deixei com a moça que me acompanhava. Desperdício zero.
A viagem não teria ido tão longe se tivesse ficado só nos restaurantes. Comer em casa ficava mais barato, além de ser bem mais interessante. Por exemplo, foi na casa da minha segunda anfitriã em PoA que desenvolvi um vício por nata, a cremosa gordura do leite. Nunca tinha experimentado e, depois de fazê-lo, queria pôr em tudo, com as mais variadas combinações: nata e doce de leite, nata e geleia, nata e creme de amendoim, nata e queijo, nata e presunto, nata e [insira aqui qualquer possibilidade].
Também foi na casa dessa anfitriã que tive o primeiro contato com um dos maiores símbolos da cultura gaúcha: o chimarrão. Aprendi o passo a passo do seu preparo. O primeiro gole escaldou a minha língua e todo o caminho até o estômago. Fiz cara feia para o gosto amargo e empurrei a cuia de volta para a anfitriã. Ela e o namorado riram de mim. Devolver a cuia ainda cheia é falta de educação. Tinha que beber tudo. Iniciava ali uma aula sobre a “etiqueta da roda de chimarrão”. Pretendo fazer um guia para novatos no futuro.
Ainda em PoA, numa noite chuvosa e fria, os anfitriões me chamaram para conhecer uma cafeteria que havia acabado de inaugurar. Diziam que o chocolate quente dali era o melhor. A fila de espera na entrada confirmava o boato. Passamos quase vinte minutos aguardando uma mesa para sentar. Na hora do pedido, cada um escolheu uma versão diferente da bebida e uma fatia de torta para acompanhar. Ninguém considerou que a combinação doce + doce podia não cair tão bem. Na terceira garfada da torta, eu já sentia a barriga embrulhada. Nem curti o chocolate quente, bebi apenas para fazer valer o dinheiro. Agradeço a Deus por não ter ido parar no hospital com uma crise glicêmica.
Em Cotiporã, por estar hospedada em um hotel, tive que jantar todas as noites no principal barzinho da cidade. Um lugar aconchegante que servia o melhor xis que comi no RS. Para quem não sabe, xis é uma versão superior do hambúrguer. Grande, suculento, que você morde e lambuza a boca com molho. Eu pedia sempre o xis salada por ser menor e mais barato. Nele, vinha bife, ovo, queijo, presunto, molho de ervilha e milho, alface e tomate. Uma refeição completa. Ficava ansiosa para a noite chegar só para comer novamente. É viciante. Andei procurando no Rio de Janeiro, mas ainda não achei algo que se compare. Depois de comer um xis, suas noções de hambúrguer são atualizadas.
Ainda nesse restaurante, fiz uma grande estripulia. Meu dia não tinha sido muito legal, então, para compensar, me permiti escolher um prato diferente – e mais caro – para o jantar. O eleito foi o Bauru. Pedi sem saber ao certo do que se tratava, só torcia para valer os trinta reais que gastaria nele. Quando o garçom trouxe o prato, faltei chorar diante de tanta perfeição em forma de fritura. Bife, ovo, batata frita, polenta frita, mussarela, presunto, picles e umas folhas de alface para disfarçar a bomba de colesterol. Comi com gosto, com felicidade, com satisfação. Esqueci as frustrações e simplesmente comi. Acredito que engordei uns três quilos só com esse prato.
Já em Flores da Cunha, tive muito mais oportunidades de cozinhar. No almoço, preparava umas comidas básicas, com ovo, salada e arroz. Na janta, rolava um misto quente ou um pastel no capricho feito pelo Marcos. Sentávamos nas mesinhas brancas do Mirante Gelain e comíamos conversando. Bons tempos...
Foi ao lado do Marcos e de sua namorada que conheci Gramado. Na ocasião, escolhemos uma das muitas chocolaterias da cidade para fazer um lanche. Mais consciente dos limites do meu corpo, pedi um chocolate quente e só. Ainda garanti que não fosse um dos mais doces. Era um chocolate meio amargo, lembrava café. O chantili por cima foi o único enfeite. Simples e gostoso. Na medida certa.
Em Poços de Caldas-MG, já me senti mais no meu território no que se refere a comida. Os cheiros e gostos me lembravam da minha casa, da minha família. Faziam pensar que estava cada vez mais perto de concluir a aventura e precisava aproveitar ainda mais. Logo após ter feito a Trilha do Cristo, que comentei em outro post, estava cansada, dolorida e faminta. Andei pelo centro atrás de algum lugar para comer. Uma placa ao longe chamou minha atenção. Dizia “Marmitex 7 reais”. Esfreguei os olhos para ter certeza que não lia errado. 7 REAIS?! Fui investigar e a primeira prova da veracidade do anúncio foi um formigueiro de gente que entrava e saia do restaurante. Entrei na fila da recepção e a atendente confirmou o valor. Recebi uma senha e esperei ser chamada, mas ainda não acreditava no preço. Imaginei que logo surgiria uma taxa de alguma coisa para esfaquear minha carteira. Fiquei tensa quando meu número foi chamado. Um moço me conduziu para o salão, onde havia um bandejão estilo self-service. O homem pegou uma marmita de isopor e foi perguntando o que eu queria que colocasse nela. Escolhi feijão, arroz, iscas de frango, torresmo, abóbora e salada. Ele levou a marmita para um lugar onde ela seria embalada e eu faria o pagamento. Pouco depois, uma moça pôs um negócio enorme sobre o balcão e estendeu a mão para mim. Imaginei que ela tivesse trocado meu pedido por um mais caro e disse que minha marmita era a de sete reais. Ela disse: “Essa é sete reais.” Levei alguns segundos para compreender. Pus o dinheiro na mão dela e abracei a marmita como se fosse um bebê. Estava quentinho! Antes que saísse, a moça ainda me entregou um copo de suco e um doce de leite para a sobremesa. Por fim, aqueles sete reais pagaram uma das melhores refeições da viagem. Tenho vontade de voltar à Poços de Caldas só para comprar de novo.
Eu disse que o xis do Rio Grande do Sul me apresentou a outro nível de hambúrgueres, só que há um rival comparável a ele em Governador Valadares-MG. Esse hamburgão é grande em tamanho, qualidade e sabor. Além de vir acompanhado da melhor maionese temperada que já provei. Fora que é preparado pelo meu tio, então é um dos meus sinônimos de família. Assim que cheguei em GV, última parada do mochilão, precisava sentir o gosto dessa gordura. Esse foi o hambúrguer que o tio fez pra mim:
Que postagem deliciosa!! Meu apetite está do tamanho de um carro quatro portas neste exato momento. Pena não ter um hamburgão entupidor de veias aqui por perto...
Vou comer alguma coisa.
Até a próxima!
Outras postagens da série:
Memórias de Viagem: aquele lugar...
Memórias de Viagem: aquele passeio...
Memórias de Viagem: aquela companhia...
Memórias de Viagem: aquele livro...
Memórias de Viagem: aquele perrengue...
Memórias de Viagem: aquele vídeo...
Memórias de Viagem: aquela foto...
Antes de chegar em Porto Alegre eu tinha uma visão estereotipada da culinária gaúcha. Esperava descer no aeroporto e logo avistar a fumaça de centenas de churrascos cobrindo a cidade. Era em carne que pensava quando pedi a anfitriã que me indicasse um restaurante para almoçar naquele dia. A resposta que recebi foi: “Serve vegetariano?”
Nunca tinha ido em um restaurante desses, então aceitei mesmo com a quebra de expectativa. Chegando lá, descobri que não se tratava apenas de um restaurante vegetariano, mas um restaurante chinês vegetariano. Um self-service, aliás. Montei meu prato com aquilo que era identificável: arroz colorido, berinjela assada, grão-de-bico e um baozi, pão cozido no vapor, que sempre quis experimentar. Estava divino!
Nos dias seguintes notei que comida vegetariana é uma verdadeira febre em Porto Alegre. Tá legal que minha anfitriã era adepta ao cardápio, o que me direcionava aos restaurantes do gênero. Só que eram muitos. Muitos mesmo! Do tipo de ter uns três na mesma região. Não vejo uma concentração assim no Rio de Janeiro, por exemplo. Fora que até alguns restaurantes comuns de PoA oferecem pratos vegetarianos/veganos. Um murro certeiro na imagem preconcebida e homogênea que tinha dos gaúchos.
Com tantas opções à disposição, logo eu estava comendo novamente em um restaurante vegetariano. Vegano, na verdade. E com pegada indiana, dessa vez. Eles liberaram um cupom de desconto para a refeição completa, que contava com entrada, prato principal, chá e sobremesa. Bom de mais para ser verdade... mas era, e aproveitei.
Como boa onívora, no dia seguinte eu estava sentadinha na área externa de um restaurante, aguardando a chegada de uma à la minuta. Trata-se de um prato feito que, na sua forma padrão, contém bife, ovo, arroz e batata frita. Mas existem inúmeras versões. Na que conheci esse dia, trocaram a batata frita por aipim cozido, acrescentaram feijão preto e uma fatia enorme de lasanha. Tudo empilhado no mesmo prato. De acompanhamento veio uma porção generosa de maionese e aquela saladinha básica.
Juro que me esforcei, usei o máximo de espaço que meu estômago dispunha, mas não comi nem um terço do prato. O que sobrou embrulharam para a viagem e deixei com a moça que me acompanhava. Desperdício zero.
A viagem não teria ido tão longe se tivesse ficado só nos restaurantes. Comer em casa ficava mais barato, além de ser bem mais interessante. Por exemplo, foi na casa da minha segunda anfitriã em PoA que desenvolvi um vício por nata, a cremosa gordura do leite. Nunca tinha experimentado e, depois de fazê-lo, queria pôr em tudo, com as mais variadas combinações: nata e doce de leite, nata e geleia, nata e creme de amendoim, nata e queijo, nata e presunto, nata e [insira aqui qualquer possibilidade].
Também foi na casa dessa anfitriã que tive o primeiro contato com um dos maiores símbolos da cultura gaúcha: o chimarrão. Aprendi o passo a passo do seu preparo. O primeiro gole escaldou a minha língua e todo o caminho até o estômago. Fiz cara feia para o gosto amargo e empurrei a cuia de volta para a anfitriã. Ela e o namorado riram de mim. Devolver a cuia ainda cheia é falta de educação. Tinha que beber tudo. Iniciava ali uma aula sobre a “etiqueta da roda de chimarrão”. Pretendo fazer um guia para novatos no futuro.
Ainda em PoA, numa noite chuvosa e fria, os anfitriões me chamaram para conhecer uma cafeteria que havia acabado de inaugurar. Diziam que o chocolate quente dali era o melhor. A fila de espera na entrada confirmava o boato. Passamos quase vinte minutos aguardando uma mesa para sentar. Na hora do pedido, cada um escolheu uma versão diferente da bebida e uma fatia de torta para acompanhar. Ninguém considerou que a combinação doce + doce podia não cair tão bem. Na terceira garfada da torta, eu já sentia a barriga embrulhada. Nem curti o chocolate quente, bebi apenas para fazer valer o dinheiro. Agradeço a Deus por não ter ido parar no hospital com uma crise glicêmica.
Em Cotiporã, por estar hospedada em um hotel, tive que jantar todas as noites no principal barzinho da cidade. Um lugar aconchegante que servia o melhor xis que comi no RS. Para quem não sabe, xis é uma versão superior do hambúrguer. Grande, suculento, que você morde e lambuza a boca com molho. Eu pedia sempre o xis salada por ser menor e mais barato. Nele, vinha bife, ovo, queijo, presunto, molho de ervilha e milho, alface e tomate. Uma refeição completa. Ficava ansiosa para a noite chegar só para comer novamente. É viciante. Andei procurando no Rio de Janeiro, mas ainda não achei algo que se compare. Depois de comer um xis, suas noções de hambúrguer são atualizadas.
Ainda nesse restaurante, fiz uma grande estripulia. Meu dia não tinha sido muito legal, então, para compensar, me permiti escolher um prato diferente – e mais caro – para o jantar. O eleito foi o Bauru. Pedi sem saber ao certo do que se tratava, só torcia para valer os trinta reais que gastaria nele. Quando o garçom trouxe o prato, faltei chorar diante de tanta perfeição em forma de fritura. Bife, ovo, batata frita, polenta frita, mussarela, presunto, picles e umas folhas de alface para disfarçar a bomba de colesterol. Comi com gosto, com felicidade, com satisfação. Esqueci as frustrações e simplesmente comi. Acredito que engordei uns três quilos só com esse prato.
Já em Flores da Cunha, tive muito mais oportunidades de cozinhar. No almoço, preparava umas comidas básicas, com ovo, salada e arroz. Na janta, rolava um misto quente ou um pastel no capricho feito pelo Marcos. Sentávamos nas mesinhas brancas do Mirante Gelain e comíamos conversando. Bons tempos...
Foi ao lado do Marcos e de sua namorada que conheci Gramado. Na ocasião, escolhemos uma das muitas chocolaterias da cidade para fazer um lanche. Mais consciente dos limites do meu corpo, pedi um chocolate quente e só. Ainda garanti que não fosse um dos mais doces. Era um chocolate meio amargo, lembrava café. O chantili por cima foi o único enfeite. Simples e gostoso. Na medida certa.
Em Poços de Caldas-MG, já me senti mais no meu território no que se refere a comida. Os cheiros e gostos me lembravam da minha casa, da minha família. Faziam pensar que estava cada vez mais perto de concluir a aventura e precisava aproveitar ainda mais. Logo após ter feito a Trilha do Cristo, que comentei em outro post, estava cansada, dolorida e faminta. Andei pelo centro atrás de algum lugar para comer. Uma placa ao longe chamou minha atenção. Dizia “Marmitex 7 reais”. Esfreguei os olhos para ter certeza que não lia errado. 7 REAIS?! Fui investigar e a primeira prova da veracidade do anúncio foi um formigueiro de gente que entrava e saia do restaurante. Entrei na fila da recepção e a atendente confirmou o valor. Recebi uma senha e esperei ser chamada, mas ainda não acreditava no preço. Imaginei que logo surgiria uma taxa de alguma coisa para esfaquear minha carteira. Fiquei tensa quando meu número foi chamado. Um moço me conduziu para o salão, onde havia um bandejão estilo self-service. O homem pegou uma marmita de isopor e foi perguntando o que eu queria que colocasse nela. Escolhi feijão, arroz, iscas de frango, torresmo, abóbora e salada. Ele levou a marmita para um lugar onde ela seria embalada e eu faria o pagamento. Pouco depois, uma moça pôs um negócio enorme sobre o balcão e estendeu a mão para mim. Imaginei que ela tivesse trocado meu pedido por um mais caro e disse que minha marmita era a de sete reais. Ela disse: “Essa é sete reais.” Levei alguns segundos para compreender. Pus o dinheiro na mão dela e abracei a marmita como se fosse um bebê. Estava quentinho! Antes que saísse, a moça ainda me entregou um copo de suco e um doce de leite para a sobremesa. Por fim, aqueles sete reais pagaram uma das melhores refeições da viagem. Tenho vontade de voltar à Poços de Caldas só para comprar de novo.
Eu disse que o xis do Rio Grande do Sul me apresentou a outro nível de hambúrgueres, só que há um rival comparável a ele em Governador Valadares-MG. Esse hamburgão é grande em tamanho, qualidade e sabor. Além de vir acompanhado da melhor maionese temperada que já provei. Fora que é preparado pelo meu tio, então é um dos meus sinônimos de família. Assim que cheguei em GV, última parada do mochilão, precisava sentir o gosto dessa gordura. Esse foi o hambúrguer que o tio fez pra mim:
Que postagem deliciosa!! Meu apetite está do tamanho de um carro quatro portas neste exato momento. Pena não ter um hamburgão entupidor de veias aqui por perto...
Vou comer alguma coisa.
Até a próxima!
Outras postagens da série:
Memórias de Viagem: aquele lugar...
Memórias de Viagem: aquele passeio...
Memórias de Viagem: aquela companhia...
Memórias de Viagem: aquele livro...
Memórias de Viagem: aquele perrengue...
Memórias de Viagem: aquele vídeo...
Memórias de Viagem: aquela foto...
0 comentários: