O dia a dia de um mochileiro não é feito apenas de anfitriões de braços abertos, deslocamentos tranquilos, comida barata e passeios bem-sucedidos. Por mais que o planejamento seja rigoroso, sempre surge um imprevisto que pode abrir brechas para o famigerado perrengue. Eu não fui exceção.
Meu primeiro perrengue aconteceu logo no início da viagem, no aeroporto. O voou partiria às 9:30. Acordei às cinco da manhã para não correr riscos de atrasos. Acompanhada do meu pai e uma amiga, peguei um BRT que garantiria a chegada mais rápida ao Tom Jobim. Não tenho certeza do que aconteceu depois disso. É como se tivesse entrado num vórtice temporal no qual o BRT andava e andava e não avançava. Uma hora se transformou em duas e nada de chegar. Vinte para as nove entrei no aeroporto aliviada por estar dentro do horário. Pedi informações sobre o local de embarque. O atendente explicou que eu devia despachar a mala, depois me dirigir à área de embarque. Concordei e sai caminhando na direção indicada. Foi então que ele disse: “É melhor ir rápido porque já fizeram a última chamada para esse voo.” Uma sirene soou alto na minha cabeça. Agradeci a ajuda, dei um vago tchau para meus acompanhantes e acionei o modo maratonista. Foi minha primeira viagem de avião e nem sei dizer como é o processo até, de fato, entrar no avião. Não vi nada, apenas corri como uma condenada de um ponto ao outro até encontrar o local de embarque. Mal conseguia falar de tanto que arfava. Só depois que liberaram meu embarque que pude relaxar. Então fiz esse video:
O principal objetivo da viagem era conhecer Cotiporã, na Serra Gaúcha, por conta de sua importância no enredo de Preciosas. Eu tinha uma imagem pessoal e carinhosa da cidade. As expectativas estavam lá em cima para essa parada. Cada uma delas minguou conforme se passaram os seis dias que estive lá. Contei em detalhes em Cotiporã - o lugar para enfrentar medos. O que realmente representou um perrengue foi o hotel Dal Molin.
O hotel era a hospedagem mais barata da região – único fator que considerei ao escolhê-lo. Um arrependimento que carrego até hoje. Era um casarão antigo, no maior estilo Invocação do Mal. Sua única funcionária, uma senhorinha simpática, só aparecia para instalar os hóspedes e lavar roupa. Fora isso, o lugar ficava a Deus dará. Nada de café da manhã ou qualquer outro luxo além de um quarto para dormir. A cozinha ficava livre, mas a água tinha um gosto de ferrugem tão forte que eu mal aguentava escovar os dentes, imagina fazer comida. E, como se já não bastasse, não tinha wi-fi.
O lugar era uma merda, sinceramente, mas não queria dar o braço a torcer, então me fiz de louca e fingi que nada daquilo importava, que estar em Cotiporã já era bom o bastante. Mudei de ideia no minuto em que um alerta de tornado foi dado ao RS. Corri para ver se ainda havia vagas na pousada da cidade – que era bem mais cara. Não havia. O medo foi minha única companhia durante as tempestades que caíram a noite.
Por muito tempo tentei me convencer que a experiência rendeu algo de positivo, tipo: “Legal, agora sei como é dormir num cenário de filme de terror!” Mas é exatamente o contrário. A situação foi tão ruim que contaminou o meu olhar sobre a cidade. Cotiporã virou sinônimo de frio, chuva e isolamento. Detesto admitir que até considerei tirar Preciosas dessa ambientação. Nem minhas personagens merecem o que passei.
Ainda estava mexida com o ocorrido em Cotiporã quando cheguei em Caxias do Sul. Para desgraçar de vez, novamente parei em uma hospedagem aquém das possibilidades. Dessa vez, um hostel gerenciado por uma velhinha que devia repensar seu ramo de negócios. Fechada, mal-humorada, com jeito de rancorosa. Não sei se recebi um tratamento especial, mas senti que ela me detestava desde o primeiro minuto. Paguei um pernoite considerando procurar outro lugar no dia seguinte. Por sorte, havia mais um hóspede além de mim. Uma pessoa extrovertida e comunicativa que aliviava parte da tensão. Ele tornou suportável as duas noites que passei ali.
Nesse caso, o perrengue foi mais interno que externo. Eu estava psicologicamente exausta. O troca-troca de cidades ia completar um mês. Precisava organizar o cronograma das paradas seguintes. A luta contra os gastos não dava uma mísera folga. E eu ainda tomava decisões equivocadas, como ficar naquele hostel horroroso. Acabei deprimida, louca de vontade de voltar para casa e esquecer essa história de mochilão. Cheguei a pesquisar os preços da passagem aérea de Caxias para o Rio de Janeiro. Desistir era o melhor a se fazer.
Mas eu não queria desistir! Estava morrendo de medo das coisas continuarem a dar errado, só que voltar para casa naquele estado parecia bem pior. Agradeço ao apoio do Marcos nesse momento. O restante da história vocês já sabem.
Até a próxima!
Outras postagens da série:
Memórias de Viagem: aquele lugar...
Memórias de Viagem: aquele passeio...
Memórias de Viagem: aquela companhia...
Memórias de Viagem: aquele livro...
Memórias de Viagem: aquela comida...
Memórias de Viagem: aquele vídeo...
Memórias de Viagem: aquela foto...
Meu primeiro perrengue aconteceu logo no início da viagem, no aeroporto. O voou partiria às 9:30. Acordei às cinco da manhã para não correr riscos de atrasos. Acompanhada do meu pai e uma amiga, peguei um BRT que garantiria a chegada mais rápida ao Tom Jobim. Não tenho certeza do que aconteceu depois disso. É como se tivesse entrado num vórtice temporal no qual o BRT andava e andava e não avançava. Uma hora se transformou em duas e nada de chegar. Vinte para as nove entrei no aeroporto aliviada por estar dentro do horário. Pedi informações sobre o local de embarque. O atendente explicou que eu devia despachar a mala, depois me dirigir à área de embarque. Concordei e sai caminhando na direção indicada. Foi então que ele disse: “É melhor ir rápido porque já fizeram a última chamada para esse voo.” Uma sirene soou alto na minha cabeça. Agradeci a ajuda, dei um vago tchau para meus acompanhantes e acionei o modo maratonista. Foi minha primeira viagem de avião e nem sei dizer como é o processo até, de fato, entrar no avião. Não vi nada, apenas corri como uma condenada de um ponto ao outro até encontrar o local de embarque. Mal conseguia falar de tanto que arfava. Só depois que liberaram meu embarque que pude relaxar. Então fiz esse video:
O principal objetivo da viagem era conhecer Cotiporã, na Serra Gaúcha, por conta de sua importância no enredo de Preciosas. Eu tinha uma imagem pessoal e carinhosa da cidade. As expectativas estavam lá em cima para essa parada. Cada uma delas minguou conforme se passaram os seis dias que estive lá. Contei em detalhes em Cotiporã - o lugar para enfrentar medos. O que realmente representou um perrengue foi o hotel Dal Molin.
O hotel era a hospedagem mais barata da região – único fator que considerei ao escolhê-lo. Um arrependimento que carrego até hoje. Era um casarão antigo, no maior estilo Invocação do Mal. Sua única funcionária, uma senhorinha simpática, só aparecia para instalar os hóspedes e lavar roupa. Fora isso, o lugar ficava a Deus dará. Nada de café da manhã ou qualquer outro luxo além de um quarto para dormir. A cozinha ficava livre, mas a água tinha um gosto de ferrugem tão forte que eu mal aguentava escovar os dentes, imagina fazer comida. E, como se já não bastasse, não tinha wi-fi.
O lugar era uma merda, sinceramente, mas não queria dar o braço a torcer, então me fiz de louca e fingi que nada daquilo importava, que estar em Cotiporã já era bom o bastante. Mudei de ideia no minuto em que um alerta de tornado foi dado ao RS. Corri para ver se ainda havia vagas na pousada da cidade – que era bem mais cara. Não havia. O medo foi minha única companhia durante as tempestades que caíram a noite.
Por muito tempo tentei me convencer que a experiência rendeu algo de positivo, tipo: “Legal, agora sei como é dormir num cenário de filme de terror!” Mas é exatamente o contrário. A situação foi tão ruim que contaminou o meu olhar sobre a cidade. Cotiporã virou sinônimo de frio, chuva e isolamento. Detesto admitir que até considerei tirar Preciosas dessa ambientação. Nem minhas personagens merecem o que passei.
Ainda estava mexida com o ocorrido em Cotiporã quando cheguei em Caxias do Sul. Para desgraçar de vez, novamente parei em uma hospedagem aquém das possibilidades. Dessa vez, um hostel gerenciado por uma velhinha que devia repensar seu ramo de negócios. Fechada, mal-humorada, com jeito de rancorosa. Não sei se recebi um tratamento especial, mas senti que ela me detestava desde o primeiro minuto. Paguei um pernoite considerando procurar outro lugar no dia seguinte. Por sorte, havia mais um hóspede além de mim. Uma pessoa extrovertida e comunicativa que aliviava parte da tensão. Ele tornou suportável as duas noites que passei ali.
Nesse caso, o perrengue foi mais interno que externo. Eu estava psicologicamente exausta. O troca-troca de cidades ia completar um mês. Precisava organizar o cronograma das paradas seguintes. A luta contra os gastos não dava uma mísera folga. E eu ainda tomava decisões equivocadas, como ficar naquele hostel horroroso. Acabei deprimida, louca de vontade de voltar para casa e esquecer essa história de mochilão. Cheguei a pesquisar os preços da passagem aérea de Caxias para o Rio de Janeiro. Desistir era o melhor a se fazer.
Mas eu não queria desistir! Estava morrendo de medo das coisas continuarem a dar errado, só que voltar para casa naquele estado parecia bem pior. Agradeço ao apoio do Marcos nesse momento. O restante da história vocês já sabem.
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